"Eram negros quando ela estava na sombra e azul escuro quando à luz do dia". Há semelhança entre a descrição de Flaubert, dos olhos de Emma Bovary e o perfume de Prada? Para o articulista de um site de moda, sim. Afinal, o perfume tem nuances diversas, Emma Bovary, também.
Não é a roupa que a define, mas a compulsão pelo luxo, o desvario e o adultério. O consumo sem limites, até ao ponto da dívida e da morte.
À medida que Emma descobre as delícias do amor escuso, ela passa a esbanjar, trajando, na descrição de Flaubert, um nada reles “vestido de verão de quatro folhos, amarelo, de talhe longo e roda larga”, e “um robe de chambre aberto de alto a baixo, que deixava ver, por entre as aberturas do corpete, uma camisola plissada, com três botões dourados”, um cinto de “grandes borlas” e chinelinhas grená “com laços de fita larga” (FLAUBERT, p.63 e p.126). Para fugir com o amante, ela procura L’heureux, o fornecedor/agiota e lhe pede, insensatamente que lhe venda “uma capa larga, de gola grande e forrada” (FLAUBERT, p.187).
Flaubert, Gustave. "Madame Bovary".
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